A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonella typhi. Caracteriza-se por febre prolongada, alterações do trânsito intestinal, aumento de vísceras como o fígado e o baço e, se não tratada, confusão mental progressiva, podendo levar ao óbito. A transmissão ocorre principalmente através da ingestão de água e de alimentos contaminados. A doença tem distribuição mundial, sendo mais freqüente nos países em desenvolvimento, onde as condições de saneamento básico são inexistentes ou inadequadas.
Transmissão
A S. typhi causa infecção exclusivamente nos seres humanos. A principal forma de transmissão é a ingestão de água ou de alimentos contaminados com fezes humanas ou, menos freqüentemente, com urina contendo a S. typhi. Mais raramente, pode ser transmitida pelo contato direto (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vômito ou pus proveniente de um indivíduo infectado.
A acidez gástrica é o primeiro mecanismo de defesa do organismo contra a S. typhi. Quando consegue resistir à acidez do estômago, a S. typhi chega ao intestino delgado, onde compete com as bactérias da microbiota normal do intestino. Se sobreviver, a S. typhi invade a parede intestinal e alcança a circulação sangüínea. A presença da bactéria no sangue determina o início dos sintomas. A S. typhi pode invadir qualquer órgão e multiplicar-se no interior de células de defesa (células fagocíticas mononucleares), sendo mais freqüente o acometimento do fígado, baço, medula óssea, vesícula e intestino (íleo terminal). O tempo entre a exposição e o início dos sintomas (período de incubação) pode variar de 3 a 60 dias, ficando entre 7 e 14 dias na maioria das vezes. A infecção pode não resultar em adoecimento.
Uma pessoa infectada elimina a S. typhi nas fezes e na urina, independente de apresentar ou não as manifestações clínicas. O tratamento adequado diminui o tempo de eliminação da bactéria nas excreções humanas, que pode ser de até três meses em indivíduos não tratados. Cerca de 2 a 5% das pessoas, mesmo quando tratadas, tornam-se portadoras crônicas, o que é particularmente mais comum em menores de 5 anos, idosos e mulheres com patologias biliares. Os portadores crônicos podem eliminar a S. typhi nas fezes até por mais de um ano, tendo importância na manutenção da transmissão da doença.
Em geral, a água contaminada tem uma baixa concentração de bactérias, resultando numa taxa de infecção menor entre os expostos e, naqueles em que a infecção se desenvolve, o tempo de incubação é habitualmente mais prolongado. A S. typhi pode sobreviver em águas poluídas por até 4 semanas e é resistente ao congelamento. Não resiste, entretanto, a temperaturas maiores que 57 oC, nem ao tratamento adequado da água com cloro ou iodo.
Os alimentos podem ser contaminados diretamente pela água utilizada para lavá-los ou prepará-los, através de mãos não adequadamente limpas de portadores crônicos e, mais raramente, pela exposição aos insetos (como moscas). Embora a concentração inicial de bactérias nos alimentos recém-contaminados possa ser insuficiente para causar doença humana, sob condições ambientais favoráveis ocorre significativa multiplicação bacteriana, resultando em grandes inóculos por ocasião da ingestão.
Riscos
A distribuição da doença é universal, porém é mais prevalente em países e regiões onde o saneamento básico é inadequado. Estima-se a ocorrência de 12 a 33 milhões de casos por ano no mundo, com aproximadamente 600 mil óbitos. Cerca de 60% dos casos notificados ocorre na Ásia e 35% na África. Nos países desenvolvidos ocorrem apenas surtos ocasionais de febre tifóide. Nos países em desenvolvimento, principalmente no subcontinente Indiano, sudeste Asiático, África, América Central e do Sul, a doença é endêmica. No Brasil, são registrados casos em todas as Regiões do país, principalmente no Norte e Nordeste. Nos últimos dez anos, a Bahia (1.765) e o Amazonas (1.447) são os Estados com o maior número de casos.
Medidas de proteção individual
Os viajantes que se dirigem para uma área onde exista risco de febre tifóide devem adotar as medidas de proteção para evitar doenças transmitidas através da ingestão de água e alimentos. O consumo de água tratada e o preparo adequado dos alimentos são medidas altamente eficazes. A seleção de alimentos seguros é crucial. Em geral, a aparência, o cheiro e o sabor dos alimentos não ficam alterados pela contaminação com agentes infecciosos. O viajante deve alimentar-se em locais que tenham condições adequadas ao preparo higiênico de alimentos. A alimentação na rua com vendedores ambulantes constitui um risco elevado. Os alimentos mais seguros são os preparados na hora, por fervura, e servidos ainda quentes.
Manifestações
A maioria das pessoas infectadas pela S. typhi, permanece assintomática durante o período de incubação, usualmente 10 a 14 dias após ingestão de água ou alimentos contaminados, embora seja possível (em 10 a 20% dos casos) a ocorrência de diarréia transitória. Ao término deste período, coincidindo com a fase de bacteremia contínua, surge a febre que inicialmente é baixa, mas torna-se progressivamente mais alta. Nesta fase inicial, é comum a ocorrência simultânea de dor de cabeça (cefaléia intensa frontal ou difusa), dores pelo corpo, dor no abdome, fadiga, perda de apetite, náuseas e alteração do trânsito intestinal, manifesta por diarréia ou constipação ("prisão de ventre") intestinal. É também freqüente a queixa de dor de garganta transitória e, por vezes, o surgimento de tosse seca.
Ao final da primeira semana é possível, numa parcela significativa de doentes, detectar o aumento do baço e do fígado e a febre, já elevada, tende a torna-se contínua e assim se manter ao longo da segunda semana, que é marcada por intensificação da fadiga e da prostração. O surgimento de manchas róseas no tórax (roséola tífica) pode ser observado mais facilmente nos indivíduos de pele clara. Em 10 a 25% dos casos, as manifestações neuropsiquiátricas tornam-se progressivamente exuberantes, incluindo desorientação, delírio, rigidez de nuca, crises convulsivas e mais raramente estupor e coma.
Se não tratada, a doença pode evoluir por semanas ou até meses, resultando em óbito em 15% dos acometidos. Na maioria, no entanto, ocorre defervecência a partir da terceira semana, com retorno da temperatura a normalidade na quarta semana, quando parte dos infectados recuperam-se. Ressalta-se que, na ausência de tratamento específico, as recaídas são comuns.
Complicações (perfuração intestinal, hemorragia) decorrentes das lesões causadas pela S. typhi na mucosa intestinal podem ocorrer em qualquer fase da doença, sendo mais comum após a terceira semana e em pessoas não tratadas. O sangramento intestinal é a complicação mais comum e resulta da erosão da parede intestinal pela S. typhi. Na maioria das vezes, o sangramento é pequeno e cessa espontaneamente. A perfuração intestinal, que ocorre em até 3% das pessoas internadas, é uma complicação mais grave. Geralmente, se manifesta com piora da dor abdominal, aumento da freqüência cardíaca e queda da pressão arterial. O tratamento é cirúrgico e deve ser realizado imediatamente.
Tratamento
O tratamento da febre tifóide consiste basicamente em antibióticos e reidratação. Nos casos leves e moderados, o médico pode recomendar que o tratamento seja feito em casa, com antibióticos orais. Os casos mais graves devem ser internados para hidratação e administração venosa de antibióticos. Sem tratamento antibiótico adequado, a febre tifóide pode ser fatal em até 15% dos casos.
ALUNA: Maria Goreth Viegas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário