domingo, 19 de setembro de 2010

                    O Ato de Cuidar
Muitas pessoas acreditam que o objeto da igreja é a salvação da alma, mas, de fato, o objeto é a produção de práticas, como a crença, através das quais se atingirá a salvação como finalidade, como objetivo último. Assim, no interior da igreja há uma quantidade enorme de processos produtivos articulados para a fabricação da crença religiosa e com eles a fé na salvação.  Do mesmo modo, no campo da saúde, o objeto não é a cura, ou a promoção e proteção da saúde, mas a produção do cuidado, através do qual poderão ser atingidas a cura e a saúde, que são, de fato, os objetivos que se quer atingir. Nos últimos séculos, o campo da saúde foi se constituindo como um campo de construção de práticas técnicas cuidadoras, socialmente determinadas, dentro do qual o modo médico de agir foi se tornando hegemônico. Mas, mesmo dentro desse modo particular de agir tecnicamente na produção do cuidado, nesses anos todos, há uma enorme multiplicidade de maneiras ou modelos de ação.  Porém, nos tempos atuais, qualquer pessoa que tiver um mínimo de vivência com um serviço de saúde – seja um consultório médico privado, uma clínica de fisioterapia privada, um hospital público ou privado, enfim, qualquer tipo de estabelecimento de saúde – pode afirmar, com certeza, que as finalidades dos atos de saúde, marcadas pelos seus compromissos com a busca da cura das doenças ou da promoção da saúde, nem sempre são bem realizadas, para ser otimista.  Todos: trabalhadores, usuários e gestores dos serviços, também sabem que, para atingir aquelas finalidades, o conjunto dos atos produzem um certo formato do cuidar, de distintos modos: como atos de ações individuais e coletivas e como abordagens clínicas e sanitárias da problemática da saúde; conjugam todos os saberes e práticas implicados com a construção dos atos cuidadores e conformam os modelos de atenção à saúde.  Sabemos, por experiências como profissionais e consumidores, que, quanto maior a composição das caixas de ferramentas (aqui entendida como o conjunto de saberes que se dispõe para a ação de produção dos atos de saúde) utilizadas para a conformação do cuidado pelos trabalhadores de saúde, individualmente ou em equipes, maior será a possibilidade de se compreender o problema de saúde enfrentado e maior a capacidade de enfrentá-lo de modo adequado, tanto para o usuário do serviço quanto para a própria composição dos processos de trabalho.  Entretanto, a vida real dos serviços de saúde tem mostrado que, conforme os modelos de atenção que são adotados, nem sempre a produção do cuidado em saúde está comprometida efetivamente com a cura e a promoção.  As duras experiências vividas pelos usuários e trabalhadores de saúde mostram isso cotidianamente, em nosso país.  Creio que poder pensar modelagens dos processos de trabalho em saúde, em qualquer tipo de serviço, que consigam combinar a produção de atos cuidadores de maneira eficaz com conquistas dos resultados, cura, promoção e proteção, é um nó crítico fundamental a ser trabalhado pelo conjunto dos gestores e trabalhadores dos estabelecimentos de saúde.  Poder explorar essa tensão própria da produção de atos de saúde, a de ser atos cuidadores, mas não obrigatoriamente curadores e promotores da saúde, é uma problemática da gestão dos processos produtivos em saúde.
ALUNA: Andréia Ramalho de Freitas
turma: B- NOITE
SEGUNDO SEMESTRE

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